O dia 10 de fevereiro entrou para a história no setor cafeeiro. Após deliberação realizada durante a 131ª Sessão do Conselho Internacional do Café (OIC), a brasileira Vanusia Nogueira foi escolhida como diretora executiva da organização, a primeira mulher a conquistar o posto.
Nesta entrevista para o Jornal do Café, Vanusia falou sobre os desafios que serão encarados em 2022 pelo segmento, as mudanças que pretende trazer para a instituição e o legado que deseja deixar.
Confira a entrevista
Diante dos obstáculos encarados pela indústria cafeeira, atualmente, quais são as expectativas para o mercado de café para o ano de 2022?
O ano de 2022 será um ano bastante desafiador. Teremos uma safra menor que a expectativa original para um ano de safra alta, estamos enfrentando uma série de questões de aumentos de preços de insumos, a indústria com margens menores e o consumidor questionando as atualizações de preços.
Nesse contexto, é vital ter planejamento nessa fase de transição e inovação para indústrias e para o varejo, de forma que se atentem aos anseios dos consumidores e às tendências de consumo, com o aumento nos lares e do avanço nas compras on-line diante dos impactos da pandemia. Apesar da pressão inflacionária existente, espero que a reabertura dos estabelecimentos de horeca permita a forte retomada do consumo fora dos lares, o que, no todo, certamente, manterá a demanda crescente, mesmo diante da disparada dos preços, a qual será parcialmente absorvida pelas indústrias e em parte repassada aos consumidores finais.
O que pretende trazer de moderno para a OIC?
Com foco em dinamismo e relacionamento, é necessário, paulatinamente, quebrar o estigma intergovernamental da Organização. Pretendo trazer o setor privado e a sociedade civil “mais para o jogo”, seguindo os nortes dos grupos da força-tarefa público-privada criada no âmbito da própria OIC em 2020: prosperidade, transparência, meio ambiente e relações comerciais. É preciso fazer essa roda girar e demonstrar o porquê de a entidade existir.Acho que posso quebrar o estigma. A OIC é uma organização intergovernamental por definição.
O que você acredita que precisa ser reestruturado na organização?
O mundo está muito complexo e precisa de trabalhos em parceria com todos os setores, os quais sejam dinâmicos e gerem entregas, resultados concretos a todos os segmentos da cadeia produtiva cafeeira global. Ou seja, precisamos alterar o modus operandi e termos uma entidade proativa e que gere pertencimentos aos atores da cafeicultura mundial.
Quais serão as prioridades da sua gestão?
Reforço a intenção de firmar parcerias entre governos, setor privado e sociedade civil para se alcançar uma cadeia mais justa. Por meio dessa coordenação setorial vamos trabalhar questões prioritárias, como renda próspera e de bem-estar para cobrir custos e possibilitar uma vida decente aos produtores; ampliar a transparência de mercado; propor e implantar políticas e mecanismos de financiamento globais; e gerar foco em produção e abastecimento sustentáveis, bem como no consumo responsável.
O que espera deixar de legado na OIC?
Maior representatividade. Dando um passo de cada vez, sem megalomania, estarei realizada se, ao final de meu mandato, tivermos todos os países produtores e importadores dentro da Organização, assim saberei que cumpri meu papel de ter transformado a OIC em um fórum de discussões e resoluções de questões pertinentes à cafeicultura.