ABIC Entrevista: Aguinaldo Lima, diretor de Relações Institucionais da ABICS

Em conversa para o Jornal do Café, o Diretor de Relações Institucionais da ABICS apontou a importância da Rússia e da Ucrânia para o mercado brasileiro, e os impactos que o conflito traz para o setor de solúveis.

Aguinaldo_Lima
18/03/2022
Publicado em

No dia 24 de fevereiro, após meses de tensão, o presidente russo Vladimir Putin deu os primeiros passos de ofensiva contra Ucrânia, dando início a um inédito conflito europeu no século XXI. Os países são parceiros importantes do setor cafeeiro do Brasil.

Para jogar uma luz acerca dos prováveis impactos desse conflito para a indústria, o Jornal do Café convidou Aguinaldo Lima, Diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS), para uma conversa exclusiva sobre o cenário.

Confira a entrevista

Qual a participação da Rússia e da Ucrânia no mercado de Café solúvel brasileiro?

A Rússia sempre ocupou a posição de segunda maior importadora de café solúvel. Em 2021, adquiriu em torno de 380 mil sacas de café, equivalente a U$52 milhões, enquanto a Ucrânia fica na sétima posição, com 158 mil sacas, resultando em um ganho de U$23 milhões, no mesmo ano. Os dois países juntos representam 13% de toda a exportação do solúvel brasileiro e, também, do faturamento do setor, ficando em 13,5% no ano passado.

Como a indústria está reagindo ao conflito entre os dois países? Já é possível sentir as consequências?

Diante desses grandes volumes, e sendo clientes tradicionais do nosso mercado, a preocupação é grande, tanto na questão logística, quanto na financeira. Na Ucrânia os portos estão controlados pelos russos, dificultando questões como recebimento de cargas, então, é um problema de interrupção mesmo por conta da guerra. Já na Rússia, há um boicote de grandes agências marítimas, que estão cancelando suas rotas no país, praticamente, não tem navios passando por lá, e quando tem, é uma operação extremamente cara, é um cenário de complicação total.

Ainda não foi sentido as consequência da guerra, mas já estamos percebendo dificuldades nas conversas com os clientes desses dois países, portanto, há uma certa inquietação para esse mês de março, quando os efeitos poderão ter maior presença.

Como essa situação afeta o consumidor brasileiro?

Os mais afetados nesse cenário são os produtores de café, os fornecedores de matéria-prima, principalmente, os de conilon e de robusta, que fornecem 80% de tudo aquilo que é consumido pelas indústrias de solúvel. O maior impacto, caso a guerra continue, é a quebra de 540 mil sacas de demanda dos produtores.

Existem alternativas para mitigar os impactos da guerra? Se sim, quais?

É difícil saber no momento. Os problemas começam na questão logística, como citei previamente, duas grandes agências de navegação suspenderam as rotas para a Rússia, isso faz com que seja difícil enviar mercadoria, na Ucrânia os portos estão sendo invadidos, então não tem para quem entregar as mercadorias que são enviadas, o sistema de distribuição ucraniano colapsou, além de não ter mais consumo por lá. Há também problemas de pagamento, com a saída dos russos do sistema Swift, que praticamente inviabiliza as transações financeiras, que terão de ser feitas por meios mais complicados

O que o mercado deve esperar se o conflito se intensificar?

Caso isso ocorra, esperamos um grande prejuízo para a indústria e os produtores, um rombo de 13% das exportações brasileiras de solúvel, depois de três anos seguidos de recordes na exportação.

Acesse o Jornal do Café para mais informações. Confira!

Redação: Usina da Comunicação

Compartilhar: