Mulheres no café

Crédito Ana Laura Laums/Divulgação
16/07/2019
Publicado em

JC entrevista Estela Cotes

A visibilidade do papel profissional da mulher em diversos âmbitos têm aumentado significativamente conforme também o tema ganha mais espaço em debates e cenários sociais e econômicos.

Pensando nisso e considerando a importância do papel desenvolvido pelas mulheres no segmento de café, depois de iniciativas exclusivas como Florada, da 3Corações, por exemplo, o Jornal do Café conversou com Estela Cotes, que coordenou recentemente o lançamento da linha exclusiva “Café das Moças” com cinco cafés produzidos por pequenas produtoras paranaenses. Estela é uma apaixonada por cafés especiais, jornalista e sócia do barista Leo Moço no empreendimento Grupo Café do Moço.

Crédito Ana Laura Laums/Divulgação

JC – Como surgiu o Café das Moças? Existe uma ideia de dar sequência ao projeto?

Estela Cotes – A linha nasceu a partir do 1º Cup das Mulheres do Café do PR, em 2017. Nós acompanhamos este grupo gerido pela EMATER/PR desde 2016, quando fizemos uma primeira palestra sobre pós-colheita e cafés de qualidade. Em 2017, elas melhoraram a qualidade dos cafés produzidos e organizaram este leilão no qual arrematamos 5 lotes, de 5 produtoras diferentes. Foi então que lançamos a linha Café das Moças. Em 2018, compramos novamente o lote dessas mesmas 5 produtoras e estamos vendendo este ano novamente. O Café das Moças virou um motivo de orgulho para nós e um objetivo para as pequenas produtoras. Recebo muitas mensagens de muitas mulheres, em feiras e durante as nossas viagens, falando que querem ter os seus cafés na lata!

JC – Vocês preveem um treinamento exclusivo para as mulheres, ampliando o projeto a outros estados?

Estela Cotes –Nossa atuação tem sido muito ligada à agenda da EMATER. Ano passado fizemos o 1º Encontro do Café das Moças, com palestras sobre pós-colheita, empreendedorismo e mercado de cafés especiais. Para este ano, a nossa ideia é fazer este encontro no 2º semestre. Mas sim, queremos expandir para outros Estados, trabalhando em parceria com estes órgãos que, como a EMATER, fazem o acompanhamento no dia a dia mesmo.

JC – Quais os diferenciais da atuação das mulheres na lavoura do café? O lado detalhista, cuidadoso e feminino favorece quais atividades especificamente?

Estela Cotes – Existe uma pesquisa do IBGE que diz que mais de 18% das propriedades rurais no Brasil são geridas por mulheres; no mundo, mais de 40% da mão de obra no campo é feminina. E isso não é uma realidade nova. Acho que o que acontece é que temos uma imagem de fragilidade feminina que é difícil ser associada ao trabalho pesado no campo.

Fato é que nós sempre estivemos lá, mas nunca fomos vistas! Minhas avós, tias-avós cuidavam da roça tanto quanto os maridos…

Na produção de cafés especiais vejo que as mulheres têm mais cuidado para fazerem a coleta seletiva e são mais abertas a ouvirem e aplicarem as técnicas ensinadas pelos agrônomos. Não existe uma resistência, porque “eu sei mais do que ele”! Quando elas se propõem a produzir cafés de qualidade, se empenham demais para isso. 

JC – Como você enxerga a abertura do mercado para as mulheres no café?

Estela Cotes – Estamos passando por um momento de abertura incrível. Grandes empresas promovendo o trabalho das mulheres no campo, fazendo concursos com remuneração em dinheiro, que é superimportante. Tanto o mercado quanto o consumidor final estão enxergando o valor do trabalho da mulher no campo e a qualidade na xícara.

JC –Como barista, você percebe a questão de gênero sendo um parâmetro ou isso não atinge o segmento?

Estela Cotes – No mundo afora existe essa discussão sobre a quantidade de mulheres em campeonatos de barismos versus a quantidade de homens, mas eu, de verdade, não vejo e nunca vi nenhum tipo de preconceito contra as mulheres. Acredito que este seja um segmento super democrático, não vejo distinção de salários, por exemplo, por conta de gênero.

JC – Alguma história que te encantou/marcou durante o desenvolvimento do projeto Café das Moças?

Estela Cotes – Cada uma daquelas produtoras tem uma história de força e perseverança inspiradoras. A Ana Maria se destacou por conta do lote que entrou para a história como o mais caro do Paraná. Ela é uma mulher forte e muito inteligente. Tem o Primeiro Grau apenas (escolaridade) e cuidava da roça de café do patrão, mas entrou para o grupo Mulheres do Café do Paraná’ e identificou uma oportunidade: ofereceu uma sociedade ao chefe para produzir café especial em um lote do sítio. O resultado veio com o leilão: 30 kg que arrematou por R$ 3.500. Em 2018, compramos as 9 sacas que ela produziu. Ela agora tem novos planos, inspira os filhos a crescerem no campo.

JC – O que, em sua essência, te inspirou a seguir com esse projeto, além das histórias de mulheres fortes no segmento de café da região?

Estela Cotes – Decidi trabalhar com café especial porque enxerguei o mercado com oportunidades para eu realizar o que gostaria enquanto profissional. O Café das Moças reuniu muito do que eu gosto de fazer: desenvolver um projeto, marca, branding, produto a partir de histórias reais e, de quebra, contribuir de alguma forma para que tenhamos um presente melhor e um futuro mais promissor.

JC – Qual o seu sonho/meta com o Projeto Café das Moças? Existe a possibilidade de ganhar uma frente independente do Café do Moço?

Estela Cotes – Quero ampliar a linha com cafés de mulheres de mais regiões – este ano já incluímos Goiás e Minas nas compras de safra. Quero transformar o Encontro do Café das Moças em uma ação nacional, levar mais conteúdo sobre como gerir a produção, precificar, ajudar as mulheres a conduzirem o café como negócio, incentivando os filhos a permanecerem no campo.

Sobre Estela Cotes: Em 2015, Estela venceu o 5º Campeonato Brasileiro de Preparo de Café com uma apresentação focada no papel da mulher em toda a cadeia produtiva. Apaixonada pelo mercado dos cafés especais, Estela é jornalista e sócia do barista Léo Moço no empreendimento Grupo Café do Moço e recentemente coordenou o lançamento da linha exclusiva “Café das Moças” – cinco cafés produzidos por pequenas produtoras paranaenses, democratizando um mercado até então dominado por homens.

Serviço: www.cafedomoco.com.br/

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