Produtores de café arábica veem atrasos e possíveis perdas devido ao coronavírus

safra 20/21
12/05/2020
Publicado em

Por Roberto Samora e Julia Symmes Cobb e Marcelo Teixeira

SÃO PAULO/BOGOTÁ/NOVA YORK (Reuters) – Produtores de café da América do Sul podem sofrer atrasos na safra neste ano e limitar o número de trabalhadores empregados no setor, uma vez que a pandemia de coronavírus continua a se espalhar, o que ameaça reduzir a produção dos grãos arábica, de maior qualidade e voltados à exportação.Agricultor seleciona café arábica após colheita em Alfenas (MG) 08/07/2008 REUTERS/Paulo Whitaker

A pandemia já matou mais de 250 mil pessoas e impactou severamente a produção de alimentos em todo o mundo. Plantas de processamento de carne onde surtos do vírus foram registrados estão fechadas, caminhonheiros reduziram o ritmo de entregas por medo de infecção e fazendeiros estão destruindo plantações que não terão como ser levadas até os consumidores.

A colheita é a etapa mais intensiva em mão de obra na produção de café. A Colômbia e o Brasil, que produzem 65% do café arábica do mundo, uma variedade “premium”, precisarão de 1,25 milhões de pessoas para os trabalhos, segundo associações de produtores. Esses países, junto com Peru e Equador, dependem de empregados temporários para o trabalho em campo.

Mas produtores, negociantes de café e importadores nos principais países consumidores estão preocupados porque o vírus ainda não chegou ao pico nem no Brasil e nem na Colômbia, o que faz da reunião de trabalhadores para a colheita um potencial risco de piora na epidemia.

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, tem minimizado os riscos do vírus, criticando restrições à movimentação na região e pressionando pela reabertura de negócios mesmo com o país já registrando mais de 135 mil casos e mais de 10 mil mortes, os piores números para um país emergente.

A negociantes de cafés especiais Caravela Coffee realizou uma pesquisa por telefone com centenas de produtores associados no Peru, Equador e Colômbia no final de abril. A maior parte deles disse esperar dificuldades para contratar trabalhadores. Eles também projetaram possíveis perdas de até 10% na produção de café arábica.

Marcas de cafés especiais como Starbucks, a Nespresso, da Nestle, e a italiana Illycaffe, preferem grãos lavados de arábica, enquanto o café robusta, produzido principalmente no Vietnã, é em geral utilizado para cafés instantâneos.

A safra de robusta foi encerrada, enquanto a colheita de arábica está apenas começando na América do Sul.

No Brasil e na Colômbia, os governos locais isentaram alguns trabalhadores de restrições para não impactar a produção de alimentos, incluindo dos setores de café e portuário.

Produtores no Brasil dizem que estão avaliando contratar menos pessoas e realizar a colheita gradualmente. Muitos disseram à Reuters que consideram atrasar a colheita por preocupações com o vírus.

“Eu vou começar com menos pessoas que o normal, nós poderemos ir mais devagar no começo”, disse o produtor Paulo Armelin, de Minas Gerais, fornecedor regular da italiana Illy.

Algumas autoridades chegaram a pedir aos produtores que adiassem a colheita por ao menos um mês, o que não é desejável se eles quiserem colher as cerejas do café— a fruta que contém os grãos —quando maduras, um aspecto valorizado para a qualidade do arábica.

Uma colheita mais tardia, quando os grãos estão secos, ainda produz um bom café, mas não no nível de qualidade para exportação visado pelas principais torrefadoras.

“Tem sido difícil encontrar equipamentos de proteção. Nós vamos começar a colheita, mas se as pessoas começarem a ficar doentes vamos parar e retomar mais tarde”, disse o produtor Thiago Motta, proprietário da fazenda Jatobá, na região do Cerrado mineiro.

PEQUENAS FAZENDAS COLOMBIANAS

Na Colômbia, onde as fazendas são menores e em áreas montanhosas, a colheita é principalmente manual e demanda muita pessoas nos cafezais. A maior parte dos produtores é familiar e chama os vizinhos para ajudar, o que poderia reduzir a necessidade de trazer pessoas de outras regiões.

A Colômbia registrou menos de 10 mil casos de coronavírus, mas ainda não realizou testes em massa.

A federação da indústria de café da Colômbia disse que trabalhadores temporários ainda devem ser necessários por boa parte da colheita. Movimentar e abrigar cerca de 150 mil trabalhadores em condições adequadas de higiene devido ao vírus será difícil para os produtores, assim como garantir que o café será processado e embarcado a tempo.

Em abril, as exportações de café da Colômbia caíram 32% na comparação anual devido às restrições em vigor.

Jhon Espitia, que vem de uma família de produtores de café em Tolima, na região central da Colômbia, disse que as orientações do governo sobre como realizar a colheita sob as atuais condições não foram claras.

“É uma situação preocupante porque em algumas áreas a colheita já começou e em 13, 20, 30 dias estará em ritmo total’, afirmou ele.

Transporte também pode ser um problema, uma vez que houve uma redução na disponibilidade de caminhoneiros— alguns motoristas preferem ficar em casa para evitar o risco de contágio. O movimento dos caminhões entre cidades também poderia aumentar riscos.

O CEO da torrefadora norte-americana Dean’s Beans, Dean Cycon, disse que, em suas conversas com fornecedores na América Latina, o transporte é a principal preocupação.

“Nós poderíamos ver operações desacelerando nos portos, ou problemas com caminhões para pegar o café nas fazendas”, afirmou.

PRODUÇÃO GLOBAL DE CAFÉ (mi sacas)

Arábica: 102,7

Robusta: 69,7

PRODUÇÃO DE ARÁBICA POR ORIGEM

Colômbia: 15,5

Outros: 31,7

Brasil: 55,5

Fonte: OIC

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