No Jornal do Café, abordamos por diversas vezes o poder do café de criar conexões entre as pessoas. O grão é considerado não só um alimento, mas também um símbolo do momento de estabelecer laços, da conversa com uma pessoa querida e de outras circunstâncias importantes emocionalmente.
Alguns estabelecimentos tentam expandir essa capacidade da bebida, como cafeterias que se tornam mais do que um espaço para consumo, e exercem, também, um importante papel sentimental e social. A Café Du Centre, franquia de Santa Catarina fundada em 2014, é exemplo disso, tornando suas lojas um local de inclusão.
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Cafeteria com aroma de solidariedade
Tudo começou com um curso de barista aberto aos alunos da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), em 2017, que terminou com certificação, comemoração e muita expectativa. A parceria foi além, pois os participantes apresentaram ganhos exponenciais de comunicação, conforme explica Eliane Soares, diretora da APAE: “Eles não paravam de falar no assunto, expressavam a vontade de voltar à cafeteria, pediam para aprender mais e aí conversamos e o Café Du Centre sugeriu ampliar essa iniciativa”.
Hoje, dez alunos da entidade se revezam uma vez por semana na matriz da rede Café Du Centre em Itapema, Santa Catarina. Durante um período de três horas, eles atuam na função que desejam aprender e desenvolver, experimentam as suas capacidades e, ao final do expediente, recebem o pagamento pelo serviço.
Bruna Vieira, uma das sócias da Rede Café Du Centre, é uma entusiasta do projeto: “É impressionante a capacidade lúdica deles. Ficam vidrados nos grãos de café, em cada etapa do preparo de uma bebida. Encaram os utensílios e os processos como se fizessem arte. São minuciosos, se entregam emocionalmente e aprendem com muita rapidez”.
Iniciativa promove independência e autoestima
Celso Bertolli é pai de Milena Bertolli, que possui retardo no desenvolvimento devido uma complicação no parto. Ele relata o orgulho em ver a filha trabalhando: “A primeira vez que minha filha recebeu o pagamento e voltou para casa, lembro dos olhinhos dela brilhantes dizendo que havia trabalhado e conseguido. Foi uma conquista para todos nós, a cena mais feliz da minha vida”.
Sentimento similar pode ser observado na família de Fernanda Prestes, que é autista. Sua mãe, Leonita Prestes, comenta a emoção ver a filha participando do projeto: “Quando soube que a minha filha teria essa oportunidade, me emocionei profundamente. Acredito que a principal preocupação dos pais e cuidadores de pessoas com algum déficit no desenvolvimento, é justamente sabemos da dificuldade que eles enfrentam de conquistarem um espaço na sociedade para a sua independência”.
Karin Luisy, a psicóloga da APAE, avalia o projeto como um grande ganho para a autogestão dos alunos: “Eles se preparam para o dia do trabalho, pensam como devem se vestir, se portar, se comunicar. Percebemos uma evolução significativa no desenvolvimento da linguagem, na adaptação às regras de convivência, o senso de organização e disciplina para ocupação dos espaços e a participação nas atividades, além de uma cooperação mais espontânea”.
Paula Vieira, também sócia do Café Du Centre, afirma que há planos de expandir o projeto para outros estados: “Estamos ampliando o projeto com a APAE no Rio de Janeiro. Para nós, é mais do que um posicionamento social, é a marca do que acreditamos enquanto empreendedores”, finaliza.
Redação: Usina da Comunicação